ALFREDO BOULOS JÚNIOR

História das guerras

Demétrio Magnoli (Org.)
Editora Contexto

O excerto a seguir é do historiador Marco Mondaini. Ele pertence ao livro História das guerras, organizado pelo sociólogo Demétrio Magnoli.

A “dupla revolução” e o nascimento da contemporaneidade

O mundo contemporâneo é resultado direto de longo período de transição compreendido entre os séculos XIV/XV e XVIII/XIX. No decorrer dessa larga fase histórica, a sociedade feudal é substituída de forma progressiva pela sociedade capitalista. Então, três espécies de transformações pré-capitalistas começam a gestar muito lentamente nova estrutura social, a saber: a) a acumulação de capital; b) a liberação de mão-de-obra; c) os progressos da técnica aplicada à produção.

Em outras palavras, de maneira lenta, somas crescentes de capitais começavam a se concentrar nas mãos de um conjunto de indivíduos que viria a construir o futuro empresariado capitalista, ao mesmo tempo que grandes contingentes de camponeses eram forçados a migrar rumo às cidades na expectativa de conseguirem sobreviver vendendo a única riqueza que lhes restara – sua força de trabalho –, e que eram dados os primeiros passos na direção do desenvolvimento científico-tecnológico voltado para o aumento da produção de mercadorias.

Localizadas nos marcos de um mundo ainda pré-capitalista, essas três transformações sofreriam um impulso monumental a partir da década de 1780. Nela, uma “dupla revolução” começa a fazer nascer de maneira irreversível uma nova sociedade – a sociedade urbana, industrial e capitalista.

Com a Revolução Industrial (inglesa) e a Revolução Democrático-Burguesa (francesa) – os dois pólos da “dupla revolução” –, o tempo histórico sofreu impressionante aceleração, fazendo com que o arrastado ritmo da medievalidade fosse despedaçado, como que se o mundo estivesse sendo virado de ponta-cabeça.

Com a Revolução Francesa, o Antigo Regime é atingindo em cheio, abrindo espaço para o sepultamento das estruturas feudais pelas forças do capital em formação, alinhadas momentaneamente aos reclamos antifeudais mais amplos oriundos das camadas mais empobrecidas da sociedade. Nas suas jornadas revolucionárias, os [...] franceses que pertenciam ao Terceiro Estado (o povo), questionaram de forma radical a iniquidade contida no domínio exercido [...] por indivíduos pertencentes ao clero e à nobreza.

O resultado das lutas iniciadas em 1789 não poderia ser mais subversivo. A noção mofada de soberania real é substituída pela renovada ideia de soberania popular. A velha ordem política assentada na realização dos desígnios divinos (o monarca como “eleito de Deus na Terra”) sai de cena, entrando no seu lugar um ordenamento fundado na capacidade racional do homem de intervir na história de maneira autônoma.

MONDAINI, Marco. Guerras napoleônicas. In: MAGNOLI, Demétrio (Org.). Histórias das guerras. São Paulo: Contexto, 2006. p. 190-191.

Habilidade da BNCC

7º ano
(EF07HI17) Discutir as razões da passagem do mercantilismo para o capitalismo.