ALFREDO BOULOS JÚNIOR

História do Brasil contemporâneo: da morte de Vargas aos dias atuais

Carlos Fico
Editora Contexto

O excerto a seguir pertence à obra História do Brasil contemporâneo: da morte de Vargas aos dias atuais. A autoria é de Carlos Fico, historiador e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Música e ditadura

Durante os anos 1960, fizeram muito sucesso os festivais da canção, concursos transmitidos por emissoras de TV que se tornaram verdadeiras “guerras” de torcidas favoráveis a um ou outro artista. As vaias eram frequentes. Para os artistas, participar daqueles festivais exigia sangue-frio. [...]

Na época, o mercado fonográfico brasileiro vivia momento de grande prosperidade. O sucesso da Bossa Nova, da Jovem Guarda, da Música Popular Brasileira (MPB) e do Tropicalismo estimulava a venda de discos. Compositores e intérpretes tinham contratos com as gravadoras que os obrigavam a lançar ao menos um disco por ano. Os festivais da canção estimularam a popularização dos artistas. As disputas entre as diversas tendências não eram todo artificial, pois havia diferenças ideológicas reais entre elas.

A Bossa Nova havia rompido com o padrão dos velhos sambas-canções cantados com grandiloquência, chamando a atenção para a delicadeza melódica desde que João Gilberto lançou seu famoso disco “Chega de saudade” em 1958. A tendência tornou-se sucesso reconhecido inclusive internacionalmente. Como uma espécie de cópia da versão açucarada dos Beatles, havia a Jovem Guarda, voltada para o público adolescente. Artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil propunham combinações mais ousadas, mesclando influências internacionais com ritmos nacionais tradicionais por meio do Tropicalismo. Nos festivais, também eram frequentes as “canções de protesto”, que, tentando driblar a censura, procuravam criticar o regime militar.

No Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo em 1968, o compositor Geraldo Vandré concorreu com sua canção “Pra não dizer que não falei de flores”, típica música de protesto que enaltecia a resistência ao regime militar. Quando foi anunciado o resultado, com Vandré em segundo lugar, irrompeu estrepitosa vaia. Os vencedores, Chico Buarque e Tom Jobim, mal conseguiram ouvir a interpretação de sua música “Sabiá”, pela dupla Cynara e Cybele.

O ministro do Exército, Lyra Tavares, pediu ao intelectualizado coronel Octávio Costa que escrevesse uma resposta a Vandré no Jornal do Brasil. A resposta de Costa agradou aos militares e ele prosseguiu escrevendo crônicas para o jornal. Foi essa atividade que o notabilizou, razão pela qual o coronel seria convidado, no futuro, a fazer a propaganda política do regime na Aerp.

FICO, Carlos. História do Brasil contemporâneo: da morte de Vargas aos dias atuais. São Paulo: Contexto, 2016. p. 79.

Habilidade da BNCC

9º ano
(EF09HI20) Discutir os processos de resistência e as propostas de reorganização da sociedade brasileira durante a ditadura civil-militar.