ALFREDO BOULOS JÚNIOR

Renascimentos: um ou muitos?

Jack Goody
Editora Unesp

O excerto a seguir pertence ao livro Renascimentos: um ou muitos?, do célebre historiador e antropólogo britânico Jack Goody. Nessa obra, o autor não nega a originalidade e a força do Renascimento italiano, mas amplia o debate sobre o tema em duas direções:

  • Evidenciando as contribuições árabes, hindus e chinesas para o movimento renascentista italiano.
  • Iluminando a ocorrência de outros renascimentos havidos no mundo árabe, hindu e chinês.
    • Renascimentos: um ou muitos?

      Iniciando com as “primeiras luzes” (primi lumi) do século XIV, o Renascimento italiano é visto com frequência como o momento decisivo no desenvolvimento da “modernidade”, em relação não apenas às artes e às ciências, mas também, do ponto de vista do desenvolvimento econômico, em relação ao advento do capitalismo. Não há dúvida de que esse foi um momento importante na história mundial. Mas quão singular ele foi em geral? Existe aqui tanto um problema histórico específico quanto um problema sociológico geral. Todas as sociedades estagnadas requerem algum tipo de renascimento para voltarem a se mover, e isso pode implicar um olhar retrospectivo sobre épocas anteriores (a Antiguidade, no caso da Europa) ou outro tipo de florescência.

      Esse é o meu polêmico pano de fundo. Não vejo o Renascimento italiano como a chave para a modernidade e para o capitalismo. [...] Em minha opinião, as origens da modernidade e do capitalismo são mais amplas e encontram-se não apenas no conhecimento árabe, mas também nos influentes empréstimos da Índia e da China. O que chamamos de capitalismo tem suas raízes numa cultura letrada eurasiana mais ampla, que se desenvolveu rapidamente desde a Idade do Bronze, com troca de produtos e informações. O conhecimento da leitura e da escrita foi importante porque permitiu o crescimento tanto do conhecimento quanto da economia, que depois proporcionaria a troca de produtos. Ao contrário da comunicação puramente oral, o conhecimento da leitura e da escrita tornou a linguagem visível, transformou-a em objeto material, que podia ser repassado entre culturas e existia da mesma forma no correr do tempo. Consequentemente, todas as culturas escritas poderiam às vezes olhar para trás e reviver o conhecimento passado, como foi o caso dos humanistas europeus, e possivelmente levar a uma florescência cultural, isto é, a uma nítida explosão de progresso. [...]

      GOODY, Jack. Renascimentos: um ou muitos? São Paulo: Unesp, 2011. p. 11-12.

      Habilidade da BNCC

      7º ano
      (EF07HI04) Identificar as principais características dos Humanismos e dos Renascimentos e analisar seus significados.