Nova História das mulheres
Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro (Org.)>br> Editora Contexto
O excerto a seguir pertence à obra Nova História das mulheres no Brasil, e foi escrito pela historiadora Joana Maria Pedro – professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Feminismo de Segunda Onda
Você considera que as mulheres são profissionalmente tão capazes quanto os homens? Revolta-se quando alguém é discriminada, sofre violência ou é desqualificada por se mulher? Acha que as mulheres, assim como os homens, têm direito ao prazer sexual? Se respondeu sim a essas questões, então você se identifica com uma importante bandeira do feminismo: a igualdade de direitos para homens e mulheres. Mas você se autodenomina feminista?
A onda que atingiu o Brasil
Durante muito tempo, no Brasil, as pessoas separaram feminista de feminina, como se fossem coisas opostas. Até o final dos anos 1980, por exemplo, poucas pessoas aceitavam o rótulo de feminista, porque, no senso comum, o feminismo era associado à luta de mulheres masculinizadas, feias, [...] mal-amadas, ressentidas e anti-homens. Se as mulheres que eram a favor da emancipação feminina não queriam ser vistas assim, o que dizer dos homens que, por apoiarem-nas, estavam sujeitos a todo tipo de gozação machista? Definir-se como feminista no Brasil era um grande risco.
Apesar dos preconceitos existentes, a partir dos anos 1960, o país viu surgir o feminismo de “Segunda Onda”: um movimento com objetivos um tanto distintos dos que haviam movido as militantes no passado. Junto com o combate às depreciações que tinham como alvos ativistas e simpatizantes, o novo feminismo apresentou reivindicações para além das relativas aos direitos políticos, econômicos e educacionais.
[...] No Brasil, a questão do trabalho e os problemas da mulher trabalhadora tiveram inicialmente prioridade sobre tantas outras pautas feministas da “Segunda Onda”. Porém, em pouco tempo, as demais reivindicações ganhariam força, com destaque para os assuntos ligados a sexualidade e corpo e à violência contra a mulher, por exemplo.
[...] No Brasil, como em outros países, o feminismo de “Segunda Onda” adotou, em seus primeiros tempos, uma metodologia revolucionária de divulgação de suas ideias: os grupos de consciência, também chamados de grupos de reflexão. Esses grupos eram constituídos apenas por mulheres – elas diziam que a presença de homens as inibia – que se reuniam nas casas umas das outras, ou em lugares públicos, como cafés, escritórios, bares e bibliotecas, para discutir problemas específicos das mulheres e se contrapor ao machismo vigente. [...]
Em seus debates, as participantes dos grupos de reflexão/consciência adotavam uma metodologia chamada “linha da vida” que as levava a falar sobre suas vivências pessoais. Conversavam sobre como viam o próprio corpo e o dos homens, contavam sobre a experiência da menstruação ou do aborto, narravam situações em que percebiam terem sido discriminadas por ser mulher na família ou no trabalho, comentavam a relação com o pai, com o marido, com outros homens, diziam o que pensavam a respeito do desejo sexual e do prazer.
Essas mulheres consideravam que a vida privada era fruto da sociedade. Abraçaram, então, o slogan feminista difundido internacionalmente: “O pessoal é político”. Além disso, questionavam os preconceitos machistas e procuraram divulgar para além do círculo restrito dos grupos a ideia do “orgulho de ser mulher”, entendendo que isso é que definia a “condição feminina”, e não a biologia como acreditava o senso comum.
PEDRO, Joana Maria. O feminismo de “segunda onda”. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria (Org.). Nova História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012. p. 238-245.Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI08) Identificar as transformações ocorridas no debate sobre as questões da diversidade no Brasil durante o século XX e compreender o significado das mudanças de abordagem em relação ao tema.