ALFREDO BOULOS JÚNIOR

As egípcias: retratos de mulheres do Egito faraônico

Christian Jacq
Editora Bertrand Brasil

O excerto a seguir foi escrito por Christian Jacq, historiador francês especializado no Egito antigo, e faz parte da obra As egípcias: retratos de mulheres do Egito faraônico.

Os papéis da mulher no Egito antigo

Constatação essencial: houve egípcias que exerceram as mais altas funções de Estado, o que não acontece na maior parte das democracias modernas. Como veremos, o papel político e social das mulheres foi determinante ao longo de toda a história do Egito. Graças a um notável sistema jurídico, a mulher e o homem eram iguais por direito e de fato, a esse estatuto legal – que só foi posto em causa no reinado dos Ptolomeus, soberanos gregos – acrescentava-se uma verdadeira autonomia, posto que a egípcia não estava submetida a nenhuma tutela.

Essa igualdade entre o homem e a mulher não se impôs apenas como um valor fundamental da sociedade faraônica, mas perdurou enquanto o país se manteve independente. É inegável que as egípcias se beneficiariam de condições de vida muito superiores às que milhões de mulheres conhecem hoje; em certos campos, como a da espiritualidade, as cidadãs dos países ditos desenvolvidos não obtiveram os mesmos privilégios institucionais que as egípcias. De fato, atualmente é impossível imaginar uma papisa, uma grande rabina ou uma reitora de uma mesquita, ao passo que muitas egípcias ocuparam o topo de certas hierarquias sacerdotais.

O que impressiona o observador que começa a interessar-se pela arte egípcia é o imenso respeito pela mulher. Bela, serena, luminosa, ela contribuiu da maneira mais ativa para a construção diária de uma civilização que cultivou a beleza, nomeadamente a feminina. [...] Quem poderia resistir à soberana atração das grandes damas do tempo das pirâmides, à graça das elegantes da Tebas do Novo Império, ao seu sorriso divino e ao amor pela vida que elas encarnam?

[...] Iremos encontrar rainhas, desconhecidas, mulheres de poder, trabalhadoras sacerdotisas, servas, esposas, mães; nenhuma delas poderia chamar-se “Senhora Fulano de Tal”, o que suporia o aniquilamento do seu nome próprio, do seu sobrenome, e um total ofuscamento em função do marido. A mulher egípcia afirmou o seu nome e a sua personalidade, sem, no entanto, entrar em competição com o homem, porque pôde exprimir plenamente a sua capacidade de ser consciente e responsável.

O Egito faraônico, a que só temos acesso a partir de 1822, data da decifração da linguagem hieroglífica por Champollion, continua a surpreender-nos; o estudo da condição feminina faz parte precisamente das áreas em que os avanços da sociedade egípcia são particularmente notáveis. Partir ao encontro das egípcias é uma aventura fascinante, recheada de surpresas; da mulher de um Faraó a uma chefe dos médicos, de uma mulher de negócios a uma “cantora do deus”, tantos rostos que traçaram caminhos de uma riqueza e de um esplendor ainda sem igual.

JACQ, Christian. As egípcias: retratos de mulheres do Egito faraônico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 20-21.

Habilidade da BNCC

6º ano
(EF06HI19) Descrever e analisar os diferentes papéis sociais das mulheres no mundo antigo e nas sociedades medievais.