História da Guerra Fria
John Lewis Gaddis
Editora Nova Fronteira
O excerto a seguir foi escrito por John Lewis Gaddis, professor da Universidade de Yale, e compõe o livro História da Guerra Fria.
A volta do medo
A vitória na Segunda Guerra Mundial [...] não gerou qualquer sensação de segurança nos vencedores. Em fins de 1950, nem os Estados Unidos, nem a Inglaterra e tampouco a União Soviética podiam considerar que as vidas e os recursos dispendidos para derrotar a Alemanha e o Japão os tinham tornado mais seguros: os membros da Grande Aliança eram agora adversários na Guerra Fria. Os interesses afinal eram incompatíveis; as ideologias se conservavam no mínimo tão polarizadas quanto antes da guerra; temores de um ataque-surpresa continuavam a inquietar os militares de Washington, Londres e Moscou. Uma competição pelo destino da Europa no pós-guerra agora se estendera à Ásia. A ditadura de Stalin permanecia tão cruel – e dependente dos expurgos – quanto sempre fora, mas, com o surgimento do macarthismo nos Estados Unidos e diante de provas irrefutáveis de que houvera espionagem dos dois lados do Atlântico, não estava mais claro se as democracias ocidentais poderiam preservar a tolerância com as dissidências e o respeito pelas liberdades civis que as distinguiam dos ditadores, fossem das variedades fascista e comunista.
“A verdade é que em cada um de nós, bem no fundo, em algum lugar, existe uma pequena dose de totalitário”, disse Kennan aos estagiários do Nacional War Colige em 1947. “É a luz estimulante da confiança e da segurança que mantém este gênio do mal submerso [...]. Se desaparecerem a confiança e a segurança, não pensem que ele não estará́ esperando para substituí-las”. Esse alerta partido do criador da estratégia da contenção – de que o inimigo a ser contido poderia facilmente estar entre os beneficiários da liberdade quanto entre seus inimigos – demonstrou o quanto difundiria o medo numa ordem internacional de pós-guerra na qual se depositavam tantas esperanças. Isso ajuda a explicar por que o livro 1984 de Orwell se tornou sucesso literário instantâneo quando foi publicado em 1949.
[...]
[Ainda segundo Kennan] Elas retrocedem para além das fronteiras da civilização ocidental, para os conceitos de guerra em certa época familiares às hordas asiáticas. Realmente não podem se ajustar a um propósito político voltado para a modelagem e não para a destruição da vida do adversário. Não conseguem levar em consideração a responsabilidade final do homem pelo seu semelhante e até mesmo pelos erros e equívocos uns dos outros. Implicam na admissão de que o homem não pode ser, mas é seu próprio e mais terrível inimigo.
GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 44-45.Habilidade da BNCC
9º ano
(EF09HI28) Identificar e analisar aspectos da Guerra Fria, seus principais conflitos e as tensões geopolíticas no interior dos blocos liderados por soviéticos e estadunidenses.