ALFREDO BOULOS JÚNIOR

Italianos: história e memória de uma comunidade

Anna Rosa Campagnano Bigazzi
Editora Companhia Editora Nacional

Trecho do livro Italianos: história e memória de uma comunidade, da pesquisadora Anna Rosa Campagnano Bigazzi. A obra aborda a formação das comunidades italianas no Brasil e como elas contribuíram para a construção de um país multiétnico.

Brasil, país multiétnico

Multiétnico é um termo que define a presença simultânea em um mesmo espaço físico de diferentes grupos étnicos distintos por seus patrimônios culturais. Mas nem sempre o Estado republicano e a sociedade brasileira aceitaram positivamente a presença de culturas étnicas minoritárias no território nacional. A trajetória de muitos grupos imigrantes deve, portanto, ser interpretada também sob o prisma da intolerância, da indiferença às diferenças culturais [...]. O fato de o emigrante ser tratado como um “eterno estrangeiro” implica, na maioria das vezes, exclusão social e auto-enclaustramento.

A integração dos imigrantes italianos na comunidade de destino exigiu, por partes deles, a adoção de modelos de comportamento que, adaptados, contribuíram para reduzir progressivamente a heterogeneidade cultural. Ao governo republicano não interessava, de fato, que os imigrantes preservassem seus valores de origem, razão pela qual foram estabelecidas, com frequência, leis de incentivo à nacionalização dos grupos estrangeiros. No entanto, o processo de assimilação se fez de maneira lenta e com dificuldades, entre as quais o uso corrente da língua portuguesa.

Recém-chegados, os imigrantes italianos procuravam aprender algumas palavras em português para conseguir sobreviver, mas raramente procuravam os brasileiros para se comunicar, fator que dificultava sua integração social. Demorava muitos anos para que o imigrante se adaptasse ao novo ambiente social, aprendendo a conviver com os usos e costumes do país hospedeiro. Apesar de sentir saudade de sua pátria, os italianos procuravam deixar sua condição de imigrantes para se tornar cidadãos brasileiros. Mesmo assim, os italianos foram alvo da xenofobia, postura que incitava a desconfiança e os conflitos sociais. Inúmeros são os casos de discriminação e intolerância para com os italianos imigrantes.
[...]

As novas gerações favorecem a integração dos italianos na sociedade acolhedora, transmitindo a seus pais e parentes os conhecimentos linguísticos e culturais adquiridos nas escolas brasileiras. Mesmo assim, procuraram preservar elementos de sua identidade de origem, ainda que o Estado brasileiro tenha procurado, entre os anos de 1938-1945, diluir os traços das nacionalidades estrangeiras através de um intenso programa pró-assimilação. Basta lembrar o conjunto de leis nacionalistas promulgadas durante o Estado Novo [1937-1945] com o objetivo de reprimir as culturas estrangeiras interpretadas como “fatores de erosão da cultura brasileira”.

BIGAZZI, Anna Rosa Campagnano. Italianos: história e memória de uma comunidade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006. p. 96-98.

Habilidade da BNCC

9º ano
(EF09HI02) Caracterizar e compreender os ciclos da história republicana, identificando particularidades da história local e regional até 1954.