ALFREDO BOULOS JÚNIOR

História do Brasil império

Miriam Dolhnikoff
Editora Contexto

O livro História do Brasil Império, de Miriam Dolhnikoff, aborda os momentos decisivos da História do Brasil no período imperial. No trecho a seguir, a professora da Universidade de São Paulo (USP) comenta as relações dos cafeicultores paulistas com o movimento republicano.

Cafeicultores paulistas e República

Apesar de estarem à frente da atividade mais rentável do país, a exportação de café, e de terem sido capazes de responder aos obstáculos que se apresentavam para sua contínua expansão, os cafeicultores paulistas no início da década de 1870, em sua maioria, articularam-se ao movimento republicano. Fundaram, em 1873, o Partido Republicano Paulista e participaram ativamente da mobilização em defesa da República. Como explicar que justamente o grupo econômico que controlava a atividade mais rentável, que, sob a monarquia, conseguiria manter a cafeicultura em constante expansão e adotar medidas para enfrentar os problemas que se apresentavam, se tornou um adversário do regime monárquico?

Duas são as explicações e ambas de conteúdo político. Em primeiro lugar, os cafeicultores paulistas ressentiam-se do fato de que não contaram com o auxílio do governo central para superar os obstáculos à sua expansão. No caso da imigração, o fracasso das experiências iniciais demonstrou que ela só seria bem-sucedida com financiamento público. Sem conseguir aprovar no orçamento nacional recursos para a imigração, só conseguiram viabilizá-la com o financiamento feito pelo governo provincial, cujas rendas provinham na sua maior parte de impostos pagos pelos próprios cafeicultores. Foram eles também que tiveram de financiar a construção de uma rede ferroviária que ligasse suas fazendas a Jundiaí. Começou a se disseminar entre os cafeicultores o ressentimento de que, apesar dos impostos que pagavam para o governo central, tiveram que resolver sozinhos, com seus próprios recursos, os problemas para garantir a continuidade da expansão cafeeira.

Em segundo lugar, os cafeicultores paulistas consideravam injusto um sistema que privilegiava outras províncias, em detrimento daquela que era responsável pela produção da maior parcela de riqueza do país. São Paulo se tornava uma potência econômica, mas não tinha influência política correspondente. Os cafeicultores consideravam que havia uma menor representatividade de São Paulo no sistema político em relação a outras províncias, com menor importância econômica. Nos ministérios, havia presença maior de ministros de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, da mesma forma no Conselho do Estado. Essas três províncias e Minas Gerais tinham bancadas maiores na Câmara e no Senado. Dessa maneira, os paulistas entendiam que sustentavam o país com sua cafeicultura sem ter, em contrapartida, maior influência nas decisões políticas.

[...] A solução para seus problemas viria com a República. Sua principal bandeira era a federação. Em uma República com alto grau de autonomia das unidades federativas haveria pouca interferência do governo central, de modo que poderiam atingir seus objetivos sem precisar apelar para a separação.

O federalismo tornou-se, assim, a principal bandeira dos republicanos paulistas. Não estavam interessados em outros temas associados às reivindicações republicanas, como a ampliação da cidadania e da proteção dos direitos civis. Ao contrário desejavam uma República capaz de manter a sociedade profundamente hierarquizada da qual se beneficiavam.

DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil Império. São Paulo: Contexto, 2017. p. 159-161.

Habilidade da BNCC

9º ano
(EF09HI01) Descrever e contextualizar os principais aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos da emergência da República no Brasil.