ALFREDO BOULOS JÚNIOR

História da África

José Rivair Macedo
Editora Contexto

Na obra História da África, o historiador José Rivair Macedo aborda importantes formações políticas africanas. No trecho destacado, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) comenta aspectos do Antigo Mali.

O Antigo Mali

O antigo Mali foi criado por diversos povos aparentados que viviam na região situada entre o rio Senegal e o rio Níger. Os mais importantes deles eram conhecidos como os mandingas (ou malinquês, ou manden). É provável que eles tenham conhecido o islã no século XI. A partir de 1150, começam a surgir notícias muito vagas sobre alguns de seus governantes que realizaram a peregrinação a Meca, como ocorreu com Djigui Bilali (1175-1200), Mussa Keita e Naré Famaghan (1218-1230). O filho desse último, Sundjata Keita (1230-1255), estendeu a influência do Mali às unidades políticas menores da vizinhança, lançando as bases de um Estado unificado que se manteria hegemônico até a metade do século XV.

A hegemonia do Mali se estendia por toda a África Ocidental e se devia a diversos fatores:

  • do ponto de vista militar, controlava um poderoso exército composto de arqueiros, lanceiros e cavaleiros;
  • do ponto de vista econômico, controlava as áreas de extração do ouro, que lhe garantiu posição de destaque na circulação das caravanas transaarianas;
  • do ponto de vista político, criou e manteve uma estrutura administrativa eficiente, com representantes nas áreas sob domínio mandinga, chamados farba, e jurisconsultos e homens da lei, chamados cadi.

Integrado por diversos povos além dos mandingas, como os soninkês, fulas, dogons, sossos e bozos, o Mali evoluiu para uma condição que o aproximava de um império, na medida em que exercia sua hegemonia, impondo-se militarmente, e extraía tributos dos povos vencidos. Era constituído de núcleos distintos de tribos, chefaturas e pequenos reinos locais. Havia duas categorias de províncias: as aliadas, cujos chefes conservavam seus títulos (caso de Gana e Nima) e as conquistadas, em que, aos lados dos chefes tradicionais, era destacado um representante direto do mansa.

O controle era, direta ou indiretamente, estabelecido por um poder central, representado na figura do governante, designado pelo termo mansa. Este era tido como o líder supremo, o executor das decisões coletivas e o aplicador da justiça. Residia na cidade de Niani, situada ao norte da atual República da Guiné.

O mansa era o representante máximo dos costumes ancestrais da comunidade, e mesmo que em sua corte alguns tivessem adotado a crença muçulmana, a população continuava a praticar seus ritos e cultos tradicionais, politeístas. Havia na corte espaço para os eruditos das mesquitas, conhecedores do Corão e da lei corânica, e espaço para os djeli, ou griôs, os conhecedores e transmissores dos costumes seculares próprios das populações locais.

O apogeu da Dinastia Keita ocorreu durante o século XVI, no governo de Kankan Mussa (1307-1332). Ele consolidou as bases administrativas nos domínios já existentes e ampliou a área de influência do “império”, com o apoio de tropas disciplinadas de ocupação. Seguidor do Corão, mansa Mussa cumpriu a obrigação da peregrinação a Meca em 1324-1325, transformando o evento numa estratégia de afirmação de poder ao divulgar no exterior a importância de seu Estado. Percebera o isolamento do Mali, sua posição marginal frente ao mundo islâmico, e procurou dar-lhe maior visibilidade e ampliar sua rede de contatos comerciais e culturais.

No retorno da peregrinação, mansa Mussa trouxe sábios, poetas e conhecedores da lei muçulmana para ensinar nas madrassas, isto é, as escolas corânicas, sobretudo nas cidades de Tombuctu e Djenné. Mandou erguer edifícios religiosos e palácios, inaugurando o estilo de arquitetura sudanesa que se mantém até a atualidade. As construções, feitas com argila, têm portas e aberturas decoradas com motivos de inspiração muçulmana, com arabescos deslumbrantes. Um dos mais belos templos construídos neste estilo, a Grande Mesqutsa de Djenne, foi classificado pela Unesco como patrimônio histórico da humanidade. [...]

MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2015. p. 55-57.

Habilidade da BNCC

7º ano
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.