Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro
Madu Gaspar
Editora Jorge Zahar
O livro Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro, de Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira, é um excelente trabalho sobre estes vestígios arqueológicos que explicam tanto do passado destas terras que vieram a ser o Brasil. A autora, também conhecida como Madu Gaspar, é professora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No trecho destacado, uma discussão sobre nomadismo ou sedentarismo dos povos sambaquieiros.
Os sambaquieiros: nômades ou sedentários?
O estudo do ambiente encontrado no entorno dos sítios fornece informações sobre estratégias de sobrevivência que nem sempre ficam registradas nos sambaquis. Os sambaqueiros não contavam com sofisticados meios de armazenamento de alimentos ou de circulação de mercadoria. Para garantir o abastecimento do grupo, estabeleciam seus assentamentos em locais estratégicos onde pudessem obter alimentos todos os dias e durante o ano inteiro.
Pesquisa realizada na Região dos Lagos, Rio de Janeiro, indicou que os locais prediletos de implantação dos sítios são áreas de interseção ambiental. Próximos de enseada, canal, rio, laguna, manguezal e floresta, dos sambaquis era possível alcançar rapidamente os diferentes ambientes. Se o mar estivesse bravo ou se o peixe não encostasse, o alimento poderia ser conseguido nas lagunas ou no mangue. As matas garantiam uma eventual caça e uma série de frutos e sementes. A ocupação de pontos estratégicos permitia o acesso a diferentes ambientes e, assim, o estabelecimento de uma população sedentária.
Pesquisadores que achavam, que os sambaquieiros eram nômades apoiavam-se na ideia de que a base de sua dieta alimentar era o molusco e que a coleta intensiva terminava por exaurir esses recursos. Como consequência o grupo era obrigado a deslocar-se à procura de novos locais de coleta. Já se demonstrou que parte significativa da dieta apoiava-se na pesca e só com a industrialização da atividade pesqueira é que esse recurso começa a se tornar escasso. [...]
Complementa esse raciocínio o fato de que nem todas as análises de restos faunísticos constataram a presença de indícios de exaustão de bancos de moluscos e, a julgar pelas aldeias de pescadores contemporâneos que ainda ocupam as mesmas regiões e por sua já referida produtividade, não há motivos para supor que o ambiente apresentasse restrições tão severas que tornassem o nomadismo uma estratégia de sobrevivência. [...]
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A posição central dos sambaquis em relação aos recursos, a inexistência de hiatos na estratigrafia dos sítios e as particularidades do ambiente litorâneo indicam tratar-se de um grupo sedentário e que se mantinha por longos períodos em seu território.
GASPAR, Madu. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 42-44.Habilidade da BNCC
6º ano
(EF06HI05) Descrever modificações da natureza e da paisagem realizadas por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos indígenas originários e povos africanos, e discutir a natureza e a lógica das transformações ocorridas.