ALFREDO BOULOS JÚNIOR

A Idade Média: nascimento do ocidente

Hilário Franco Júnior
Editora Brasiliense

O trecho a seguir pertence à obra A Idade Média, nascimento do Ocidente, escrita pelo historiador Hilário Franco Júnior.

Senhorio e feudo

Não se deve [...] confundir senhorio e feudo, ainda que frequentemente tenham estado juntos. O primeiro era a base econômica do segundo, este a manifestação político-militar daquele. O senhorio era um território que dava a seu detentor poderes econômicos (senhorio fundiário) ou jurídico-fiscais (senhorio banal), muitas vezes ambos ao mesmo tempo. O feudo era uma cessão de direitos, geralmente mas não necessariamente sobre um senhorio. Havia regiões feudalizadas sem ser senhorializadas. De fato, “das rendas do senhorio vive toda a sociedade feudal, do não livre ao senhor feudal. O que este retira em serviços e em dinheiro de seu vassalo, ele próprio senhor rural, não se concebia sem o suporte da terra, a qual é, frequentemente, a uma só vez senhorio rural e feudo” [...].

[...]

De forma geral, que rendimentos o senhor extraía de seus camponeses? No senhorio fundiário, principalmente a corveia, trabalho gratuito, geralmente três dias por semana, fosse para o cultivo da reserva, fosse para serviços de construção, manutenção, transporte etc. Havia também [...] o censo e a mão-morta, e ainda, em certos tipos de tenência camponesa, um percentual da produção. No senhorio banal, as chamadas banalidades: taxas pelo uso do moinho, do lagar e do forno, monopólios do senhor; albergagem ou requisição de alojamento; taxa pelo uso dos bosques, anteriormente direito camponês; multas e taxas judiciárias diversas; talha, surgida em fins do século XI, pela qual o senhor em troca de proteção militar cobrava quando e quanto necessitasse, arbitrariedade abolida na segunda metade do século XII, com a regulamentação de sua periodicidade e montante.

É importante, como Georges Duby chamou a atenção, não darmos um sentido modernizante a tais prestações, que muito pouco tinham a ver com “impostos”. Elas faziam parte, isso sim, de uma mentalidade que colocava muito da atividade econômica no plano mágico, do “tirar, oferecer e consagrar” [...]. Ou seja, os senhores apareciam “em primeiro lugar como dispensadores de fecundidade, o que legitimava suas exigências e fazia convergir para sua casa todo um sistema de oferendas ritualizadas”.

FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2005. p. 37-39.

Habilidade da BNCC

6º ano
(EF06HI16) Caracterizar e comparar as dinâmicas de abastecimento e as formas de organização do trabalho e da vida social em diferentes sociedades e períodos, com destaque para as relações entre senhores e servos.