História da África
José Rivair Macedo
Editora Contexto
O trecho a seguir faz parte do livro História da África. A obra foi escrita pelo acadêmico José Rivair Macedo, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de História da África na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O processo de sedentarização e as primeiras civilizações africanas
[...] Com a adoção da agricultura e da pecuária, a natureza passa a ser transformada, com o cultivo de determinados alimentos e a criação contínua de certos animais que poderiam servir de fonte de alimento, de energia e de transporte. Os grupos tendem a se fixar em determinados territórios, a viver em aldeias, segundo uma estrutura social bem mais ampla e complexa, e com aparecimento de grupos não vinculados diretamente ao trabalho, entre os quais os guerreiros e os sacerdotes.
Tais inovações técnicas, econômicas e sociais abririam caminho para as transformações subsequentes, ligadas à descoberta da fabricação da cerâmica e da metalurgia.
[...]
Entre 12.000 e 8.000 a.C., a superfície do que depois viria a ser o Saara era povoada por comunidades neolíticas que se estendiam até os vales do rio Níger e do Nilo. Nos sítios arqueológicos desses locais foram encontrados artefatos de pedra polida, indícios de criação de animais bovinos, equinos e caprinos, e de cultivo agrícola.
[...]
Tudo leva a crer que por volta de 7.000 a.C. já se plantasse o sorgo e um tipo de milho cuja denominação científica é pennisetum.
A metalurgia do cobre já era conhecida em 3.300 a.C. onde posteriormente floresceu a cidade de Takada, ao sul da Tunísia. Todavia, os artefatos de metal se difundiram no decurso do primeiro milênio a.C. através das comunidades do Níger e do Nilo, sendo identificados desde o Egito, Meroé e Cartago por volta do século VI a.C., e na Nigéria no século IV a.C. A fabricação do ferro remonta ao quarto e terceiro milênio, e a descoberta de antigos fornos comprovam a existência da produção do ferro em data muito recuada.
Tais domínios técnicos explicam o florescimento das primeiras civilizações africanas. Evidências materiais nesse sentido foram encontradas em escavações arqueológicas no ano de 1942 feitas no Planalto de Jos, na atual República da Nigéria. As cabeças e bustos em terracota revelam estilo sofisticado e domínio técnico excepcional, antecipando em vários séculos o brilhantismo da estatuária iorubá de Ifé e do Benin nos séculos XIII e XVI-XVII.
Essas criações da civilização de Mok são os testemunhos mais recuados da autonomia e originalidade das civilizações da África negra, que, como se vê, são o resultado de um legado milenar das comunidades neolíticas.
Muito antes, no decorrer do quarto milênio a.C., devido ao processo de desertificação do Saara, o empobrecimento da vegetação forçou grupos humanos e animais a procurar subsistência em locais que oferecessem melhores condições de subsistência.
Por volta de 3.500, a região de Tichitt-Walata atraía comunidades neolíticas devido às suas fontes de água. Foi então que o Nilo ganhou o prodigioso valor econômico que conserva até hoje, atraindo as populações que dariam origem ao Egito, a mais antiga e a mais importante civilização africana. [...]
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2015. p. 18-20.Habilidade da BNCC
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.