ALFREDO BOULOS JÚNIOR

História medieval

Marcelo Cândido da Silva
Editora Contexto

O trecho a seguir pertence à obra História Medieval, escrita por Marcelo Cândido da Silva – professor titular da Universidade de São Paulo (USP).

Igreja e sociedade

A principal característica do período medieval é a identificação da Igreja com o conjunto da sociedade. Isso ocorreu antes mesmo que ela se afirmasse como instituição hierárquica centralizada (a chamada monarquia papal, que se constituiu a partir do final do século XI) e foi o resultado da cristianização das populações da bacia do Mediterrâneo e, em seguida, da Germânia, da Gália, das ilhas Britânicas e da Escandinávia. Por meio de suas normas, seus dogmas e seus ritos, a Igreja forjou alguns dos principais traços das sociedades europeias a partir do século IV. É ocaso da divisão do espaço em paróquias e em dioceses, da organização do tempo ritmado pelas festas litúrgicas, da crença no poder das relíquias e nos milagres dos santos, dos ritos que marcavam as diversas etapas da vida e da morte de um indivíduo (batismo, casamento, extrema-unção) ou, ainda, dos ritos e das cerimônias que ajudavam a assegurar a legitimidade das autoridades políticas (juramentos sobre relíquias, unções e sagrações reais), para citar apenas alguns exemplos.

Um dos melhores indícios da abrangência da Igreja no período medieval é o fato de que a exclusão de seu interior equivalia, para aqueles que a sofriam, a uma exclusão da vida social. Isso ocorria através da excomunhão ou de sua forma mais extrema, utilizada contra os heréticos e contra aqueles que cometiam faltas graves: o anátema, uma expulsão acompanhada de maldição. [...] Se a excomunhão era uma forma de exclusão, o batismo marcava a inclusão – voluntária ou involuntária – dos indivíduos à sociedade cristã, criando relações de parentesco artificiais entre os batizados e seus padrinhos e, também, entre os batizados e a comunidade, ou seja, a própria Igreja. O batismo era, grosso modo, a condição para que os indivíduos pudessem desfrutar de direitos, tais como a vida em comunidade, a participação em cerimônias públicas, o acesso a funções administrativas etc. [...]

A Igreja medieval

O termo “ecclesia” (Igreja) aparece em vários textos no Ocidente, a partir do século IX, para designar a comunidade de todos os cristãos. Isso mostra a emergência, à época carolíngia, da ideia de que o conjunto de adeptos da fé cristã, quer vivessem na Irlanda, na Itália, na península ibérica ou na Germânia, constituíam um mesmo grupo, a Cristandade. Os cristãos do Oriente também faziam parte dessa comunidade, muito embora as diferenças doutrinais e políticas, acirradas com o iconoclasmo (a condenação, por parte da Igreja do Oriente, da adoração de imagens) e as cruzadas, tenham provocado uma cisão definitiva entre a Cristandade Ocidental e a Cristandade Oriental. Ambas se desenvolveram de modo distinto ao longo do período medieval, a começar pelo fato de que o chefe da Igreja do Oriente, o patriarca de Constantinopla, jamais reivindicou uma supremacia espiritual e temporal sobre a Cristandade, ao contrário do bispo de Roma. [...]

SILVA, Marcelo Cândido da. História medieval. São Paulo: Contexto, 2019. p. 81-84.

Habilidade da BNCC

6º ano
(EF06HI18) Analisar o papel da religião cristã na cultura e nos modos de organização social no período medieval.