ALFREDO BOULOS JÚNIOR

Histórias da gente brasileira: volume 2: Império

Mary Del Priore
Editora LeYa

O trecho a seguir pertence à obra Histórias da gente brasileira. Volume 2: Império, da historiadora Mary del Priore.

Minas Gerais e a produção para o mercado interno no século XIX

Em Minas Gerais, foi a vez do rio Paraibuna regar fazendas e plantações de pequeno e médio portes, ocupadas com lavouras de subsistência e gente que fugia da crise da mineração. E foi no século XIX que surgiram as fazendas de café. O cônsul inglês Richard Burton testemunhou que a “praga das grandes plantações não pesava tanto sobre a terra”. Porém, alargando-se o vale, cresciam as grandes propriedades, rio acima. Em Juiz de Fora, ou povoado de Santo Antônio de Paraibuna – seu antigo nome –, destacavam-se palacetes e chalés, além da “frescura e pureza do ar”.

Na região de Barcelona, o solo era considerado frio para o plantio de cana e café. Mas o arroz e o milho se davam bem. A partir daí, ranchos se multiplicavam, oferecendo terrenos para secar grãos. Legumes e tabaco também prosperavam. O barulho monótono de monjolos ou moinhos d’água enchiam os ouvidos de quem passasse, proclamando o atraso da agricultura. A lavoura mineira correspondia, então, a 46,8% dos produtos consumidos pelo mercado interno.

De Barbacena a Bom Jesus de Matosinhos, elevadas planícies convidavam à criação de gado e ao plantio de cereais. Frutas? Inúmeras: peras, maçãs, ameixas, castanhas, pêssegos. A uva dava duas vindimas: pobre, em julho, e abundante, em dezembro. Da colheita, fazia-se bom vinagre e até um “Borgonha de qualidade inferior”. Ao norte do município de São João del Rei crescia a azeitona-da-áfrica – cujas amêndoas oleosas, depois de processadas eram usadas na culinária –, bem como a baunilha selvagem, capaz de perfumar os ares por muitos dias.

Pela estrada que ligava a capital da província do Rio de Janeiro à de Minas Gerais, também escoavam varas de porcos e boiadas. Só porcos, toucinho e carne salgada correspondiam a 27,7% das exportações da província, em meados do século XIX. A saborosa carne dos porcos, roliços e engordados com inhame e cará, descia ao litoral, em lombo de burro. Homens cobertos por chapéus de abas estreitas [...] conduziam os animais do Rio das Mortes para os mercados da corte.

Do oeste da província, na região do Rio Grande, vinham as grandes manadas de bois. Ali, excelentes pastagens convidam à multiplicação dos rebanhos. Criadores locais chegavam a possuir 5 mil cabeças. De quase 10 mil fazendas estudadas pelo historiador João Fragoso, 22,5% eram de pecuária. Aos cuidados de escravos, o gado merecia atenções especiais. As pastagens eram mantidas verdinhas graças às queimadas. Na época da seca, com um bambu em chamas e caminhando a favor do vento, bastava um homem para pôr fogo no pasto. Esse era dividido por pastagens: das vacas leiteiras, dos bezerros, das novilhas e dos touros. Junto com a do Rio Grande, a comarca de São João del Rei era a maior produtora de queijo da região. Ali, também, se fabricava carne-seca e de sol.

Mas não só. Além do porco e dos produtos derivados do leite, na região havia muitos carneiros. Eles cresciam livremente: nem tinham cães pastores a protegê-los. Ao longo do rio, restos de velhos garimpos lembravam tempos passados. O médico e botânico inglês, George Gardner, que percorreu a região no final dos anos de 1830, considerava a província de Minas Gerais não só das maiores, como das mais ricas do Brasil em recursos naturais.

DEL PRIORE, Mary. Histórias da gente brasileira. Volume 2: Império. São Paulo: LeYa, 2016. p. 67-68.

Habilidade da BNCC

8º ano
(EF08HI12) Caracterizar a organização política e social no Brasil desde a chegada da Corte portuguesa, em 1808, até 1822 e seus desdobramentos para a história política brasileira.