ALFREDO BOULOS JÚNIOR

O tempo da Nova República: da transição democrática à crise política de 2016: Quinta República (1985-2016)

Jorge ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado (Org.)
Editora Civilização Brasileira

O texto a seguir foi escrito por Américo Freire, professor associado do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas – RJ (CPDOC-FGV-RJ), e por Alessandra Carvalho, professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAP-UFRJ) e do programa de pós-graduação em ensino de História da UFRJ.

A campanha eleitoral de 1989

Segundo os autores do texto, o contexto no qual a campanha presidencial se desenrolou possuía especificidades:

[...] A primeira delas se referiu à dimensão e às características do eleitorado brasileiro. Em 1989, os eleitores atingiram a cifra de 82 milhões de pessoas, que correspondiam a 90% da população adulta do país; comparados aos cerca de 15 milhões que possuíam o direito de voto em 1960, data da última eleição presidencial, os números de 1989 expressavam de maneira inequívoca o processo de inclusão na participação política. Esses eleitores, majoritariamente, viviam nos centros urbanos, eram jovens e de baixa renda. Suas primeiras experiências com votos e partidos se deram, sobretudo, sob o sistema bipartidário existente entre 1965 e 1979; ou seja, nunca tinham ido às urnas escolher presidente. De acordo com pesquisas realizadas à época, poucos se identificavam com os partidos existentes em 1989, o que pode ser resultado das profundas mudanças que alteraram continuamente o sistema partidário nos dez anos anteriores ao pleito [...].

Um segundo aspecto desse contexto remetia à crise econômica e política experimentada pela sociedade brasileira em fins da década de 1980. A inflação alcançava altos patamares, mesmo após três planos econômicos implementados pelo governo Sarney, que sofreu enorme desgaste. Ao mesmo tempo, denúncias constantes de corrupção praticada por membros do governo somadas às críticas à ineficiência dos serviços públicos estatais resultaram em grande insatisfação social e acentuaram uma visão negativa acerca da ação dos políticos, dos partidos e das próprias instituições representativas [...]. Portanto, no cerne dos projetos e das campanhas dos candidatos em 1989 deveriam estar propostas de solução para a crise econômica e de reformas do Estado que o capacitassem a atender as demandas da população.

Por fim, conectando de maneira fundamental os dois aspectos acima descritos, estava a centralidade da mídia e, principalmente, da televisão no desenrolar da campanha eleitoral. Alcançando, pela primeira vez em uma disputa presidencial, amplas partes do território brasileiro – cerca de 94% das residências possuíam TV –, as emissoras de rádio e televisão se transformaram em um espaço fundamental de informação e formação políticas. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), entidade privada especializada em pesquisas de opinião, mostrou que parte relevante dos eleitores em 1989 indicava como suas principais fontes de informação sobre a política as conversas com os familiares, os programas de televisão e o HPEG [...].

Em 1989, havia no Brasil cinco grandes redes nacionais de TV – Rede Globo, cuja audiência quase monopolística girava em torno de 60% a 80%, Rede Bandeirantes, TVE, Rede Manchete e SBT. Todas se engajaram intensamente nas eleições, dedicando um tempo considerável de seus programas jornalísticos à disputa presidencial. Também promoveram seguidos debates com os candidatos, dos quais participaram os dez mais bem colocados nas pesquisas de opinião – com exceção de Fernando Collor, que não aceitou participar. No segundo turno, Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT se uniram para organizar dois debates, nos dias 3 e 14 de dezembro, com a presença de Fernando Collor e Lula.

Essa centralidade da TV e do rádio na campanha eleitoral impôs novas exigências para os candidatos e os partidos. O Brasil tornara-se uma das “maiores democracias midiatizadas do mundo” [...], o que significava que as chances de sucesso eleitoral de um político ligavam-se à sua capacidade de se adaptar e se destacar na linguagem midiática. Nesse novo cenário, alguns políticos tradicionais, como UIysses Guimarães e Aureliano Chaves, foram ultrapassados por indivíduos mais jovens e com menos recursos partidários, porém com maior habilidade diante das câmeras. Por outro lado, era indispensável contratar equipes especializadas na produção de programas audiovisuais que fossem capazes de fazer o candidato “falar” aos milhões de eleitores urbanos, jovens e pobres profundamente insatisfeitos com o cenário econômico e político brasileiro.

FREIRE, Américo; CARVALHO, Alessandra. As eleições de 1989 e a democracia brasileira: atores, processos e prognósticos. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Org.). O tempo da Nova República: da transição democrática à crise política de 2016: Quinta República (1985-2016). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. p. 132-134. (O Brasil Republicano, v. 5).

Habilidade da BNCC

9º ano
(EF09HI33) Analisar as transformações nas relações políticas locais e globais geradas pelo desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação.