Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI
Sandra Marcondes
Editora Peirópolis
O trecho a seguir pertence ao livro Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI, escrito pela professora Sandra Amaral Marcondes.
O Vale do Paraíba antes da plantação do café
Foi na região do Vale do Paraíba que o café encontrou seu habitat, por causa das terras virgens e clima favorável para seu cultivo. Foi o local onde se reuniram as condições para a primeira grande expansão comercial do café. Em 1830, a cultura do café era a principal atividade dessa região. Em 1859, a província do Rio de Janeiro era responsável por 78,4% da produção brasileira, seguida por São Paulo, com 12,9%, e Minas, com 7,8%. A partir de 1880, São Paulo tornou-se o maior produtos brasileiro de café.
O vale, cuja paisagem transformou-se por tantos cafezais, era coberto por extensas intricadas matas. As águas do Rio Paraíba eram puras e a vegetação nas morrarias, espessas e selvagem. Até a penetração do café, a região permaneceu intocada. A floresta, com todo o seu mistério, o colorido e beleza, fascinou os viajantes do século XIX.
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A ocupação das terras para a plantação do café
A ocupação das terras para a plantação do café no Brasil, infelizmente, seguir a forma “tradicional” do passado, com significativas derrubadas das matas e posterior queima da madeira. [...]
O cultivo era feito com o emprego de técnicas bastante simples, do solo tudo o que se pudesse até a exaustão, mesmo porque, após seu esgotamento por falta de cuidados, o cultivo era estendido por agricultura de alimentos.
Os instrumentos básicos de trabalho da lavoura cafeeira eram a enxada e a foice. O emprego do arado pelos fazendeiros do café somente iria generalizar-se por volta de1870 nas zonas novas de São Paulo. As tarefas na lavoura desenvolviam-se da seguinte maneira: derrubava-se a mata, utilizava-se parte da madeira e tocava-se fogo no resto.
Na opinião do vassourense Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, barão de Pati, em seu livro Memória, muitos fazendeiros mandavam colocar fogo nas derrubadas “de sangue frio, como se estivessem praticando um ato heroico”. O sacerdote britânico Walsh, viajando pelo Vale do Paraíba. E, 1829, elogiou o patriotismo dos: “agricultores empreendedores do distrito de Vassouras que demonstravam [...] aquele espírito progressista, que nos pareceu estar presente em toda parte do Brasil. As lombas dos morros eram limpas pelo fogo, e a cultura de produtos alimentícios úteis substituía as árvores da floresta”.
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As queimadas, feitas de forma descuidada, espalhavam-se pelas fazendas vizinhas. O agrônomo francês M. R. Lesé, testemunha do final do século XIX, observou situações em que, para cada hectare que se pretendia abrir para a lavoura, de cinco a dez eram destruídos pelo fogo descontrolado. A cidade do Rio de Janeiro “ficava ocupada pelo ‘esfumaçado’, como então se denominava a expansão pelos ventos da fumaça das queimadas.
Em 1840, as plantações das matas cariocas entravam em declínio, pois os cafezais haviam sido plantados nas “abas íngremes da serra de Tijuca” e a erosão se encarregava de fazer seus estragos e promover decadência. Após aproximadamente quarenta e cinco anos, o futuro da lavoura fluminense era considerado sombrio por causa das condições de seus solos escarpados. Não há dúvidas de que uma das causas do declínio da cafeicultura fluminense (e também da espírito-santense), foi a erosão.
“As enxurradas tropicais despencados morro abaixo, pelas íngremes encostas dos cafezais, procuravam a linha das covas dos cafeeiros, onde a terra apresentava depressões, deixando as raízes ‘expostas ao sol’. “Rodrigues Cunha, em Arte da cultura, escreve: “observei um cafezal na encosta do morro depois de uma chuva abundante e contínua, vereis um triste espetáculo”. [...].
A exuberante floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi sendo substituída pelos extensos plantios, de café. Tal fato gerou um colapso no sistema de abastecimento de água potável, uma vez que os rios que abasteciam a cidade, especialmente o Carioca e o Paineiras, perderam a cobertura vegetal que protegia suas nascentes. Por orientação do Ministério da Agricultura, em 1865, alguns terrenos localizados ao redor das nascentes começaram a ser desapropriados para que fossem reflorestados. Em 11 de dezembro de 1861, dom Pedro II aprovou o documento “Instruções Provisórias”, pelo qual mandava efetuar o plantio e a conservação das florestas da Tijuca e das Palmeiras.
MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI. São Paulo: Peirópolis, 2005. p. 83-86.Habilidade da BNCC
8º ano
(EF08HI15) Identificar e analisar o equilíbrio das forças e os sujeitos envolvidos nas disputas políticas durante o Primeiro e o Segundo Reinado.