Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI
Sandra Marcondes
Editora Peirópolis
O excerto a seguir pertence à obra Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI, escrita pela professora Sandra Marcondes.
Cana de açúcar e desmatamento
Gilberto Freyre, em seu livro Nordeste, escreve: “Sabe-se o que era a mata do Nordeste, antes da monocultura da cana: um arvoredo ‘tanto e tamanho e tão basto e de tantas plumagens que não podia homem dar conta’. [...] O canavial desvirginou todo esse mato grosso de modo mais cru pela queimada. A fogo é que foram se abrindo no mato virgem os claros por onde se estendeu o canavial civilizador, mas ao mesmo tempo devastador”. “A cultura da cana [...] valorizou o canavial e tornou desprezível a mata”.
Por mais incrível que possa parecer, já no ano de 1542 a vila de São Vicente do Brasil sentia os efeitos devastadores dos desmatamentos: “Um maremoto submergiu boa parte da vila de São Vicente, engolindo também algumas das praias que a cercavam. Embora fosse um desastre natural, a tragédia fora acentuada pela imprevidência dos colonizadores: como eles haviam destruído os mangues e desmatado os morros vizinhos para plantar cana, São Vicente perdera suas defesas naturais, sendo varrida pelas ondas.”.
De fato, poucos meses mais tarde o porto construído nessa mesma área teve de ser abandonado pelo forte assoreamento, impedindo os navios de ancorarem nesse, ao que o padre José de Anchieta atribuiu, com muito acerto, a devastação das matas das elevações próximas ao ancoradouro, o que fazia que as enxurradas de morro abaixo arrastassem uma grande quantidade de terra.
Em outras palavras: a causa do agravamento desses dois problemas foi a mesma: “’As roças e a derrubada dos matos, que antes vestiam o solo e o seguravam, permitiram que as enxurradas de verão levassem consigo muita terra até entulhar o ancoradouro’, escreveu o historiador Francisco de Varnhagen. ‘Esse fenômeno se repetiria em muitos dos outros de nossos rios e baías, à medida que suas vertentes foram sendo devastadas e cultivadas’.”
Ao que parece, do século XVI ao XXI, o respeito às encostas e espaços de escoamento das águas não melhorou muita coisa, como se constata pelas atuais grandes enchentes de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.
MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental no Brasil do século XVI ao XXI. São Paulo: Editora Peirópolis, 2005. p. 44-45.Habilidade da BNCC
7º ano
(EF07HI10) Analisar, com base em documentos históricos, diferentes interpretações sobre as dinâmicas das sociedades americanas no período colonial.
(EF07HI13) Caracterizar a ação dos europeus e suas lógicas mercantis visando ao domínio no mundo atlântico.